Vale da Sombra da Morte
Quando dei por mim lembrei de tantas reportagens e noticias sobre tragédias noturnas que escorriam por entre aquelas esquinas e ruas centrais. Não que a real condição de existência de tais fatos nunca tivessem me ocupado alguns minutos de reflexão, mas a habilidade de se manter alheio a tais possibilidades diante de ti é inegável. Pura hipnose inconsciente para conservação da sanidade, imagino.
Pois bem, enfim me deparei com a real possibilidade de, finalmente, ser caça.
Não que tivesse medo, acredito não ser a palavra correta, mas a cada passo cantado pela calçada, a noite aumentava seu silêncio. A cada esquina duas emboscadas em potencial, janelas trincadas eram cúmplices.
Meu espírito era grande, meus passos firmes e rápidos, mas sou animal e sempre existe um igual mais forte.
Um par de caninos famintos.
Lembro-me de não ter conhecido algum que tivesse passado por tal situação. São sempre desconhecidos, sempre rostos desprovidos de lembranças... No máximo uma semelhança física, puramente coincidente, com algum primo distante. Porem, qual seria a amplitude de minha existência ou meu grau de semelhança com parentes distantes de toda essa gama de outros alheios? Maldito seja o bom senso!
O ar esfria e eu aumento o ritmo.
Aqui devo me desmentir. Medo? Sim! Não há palavra melhor ou contexto mais adequado para a utilização de tal termo. Eu sentia medo, medo profundo. A cada instante da sensação de liberdade noturna eu criava mil visões de minha própria captura, diversos tons de grito. Tremia a cada golpe de possibilidade.
Acelerei o ritmo.
Bendita seja tua toca, criatura!
Quando Deus tem insônia, caminho pelo Vale da Sombra da Morte.
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