As noites andam quentes demais. O que me faz repensar a veracidade de todas aquelas teorias, que andam circulando pelos jornais e afins, sobre um tal superaquecimento global e possível fim do mundo. O fim dos tempos como uma grande panela de pressão.. É tão amedrontador quanto instigante.
Sinceramente, nunca me importei com isso. Quando era criança, passei longos dias de angustia e medo, na expectativa de que uma dessas pseudo-teorias se concretizasse, e elas nunca vieram. Nada aconteceu... Mas talvez agora.. Talvez agora algo seja certo, algo grande possa estar para acontecer. Talvez o suor em minha testa, o enjôo e o mal estar sejam meus impulsos primitivos de fuga premonitória. O momento de minha migração em ‘V’ pelo espaço.
Mas, enfim, a noite estava quente. Quente o suficiente para ter me feito tomar o quinto banho do dia.. Ou seria o sexto? Não importa! Estava realmente quente.
Sem pensar, retiro as roupas e as jogo num canto qualquer do banheiro,(de onde só serão recolhidas amanhã, se bem me conheço) e coloco-me abaixo da forte, fria e revigorante ducha d’água.
‘Deus, eu te amo! ‘
Primeiro o corpo. Braços, pernas, barriga.. E então a cabeça, o golpe final. O meu transe religioso.
Nesse instante lembro-me de um daqueles programas de canais ‘educativos’.. Discovery.. National Geografic.. Havia um homem, um daqueles destemidos e sábios, ele dizia que perdemos uma quantidade significativa de calor pela cabeça (bem apropriado) e que ‘ a perda de 3 graus do corpo é o suficiente para se perder a consciência’.
3... Míseros 3 graus!
1 – 2 – 3.
Assumo que a idéia me acometeu por um momento... Afinal, estava muito quente, mas não.. Não dessa vez.
As paredes do quarto incorporavam um efeito ‘forno’. Não havia nem ao menos enxugado o corpo mas ele teimava, e já podia senti-lo secando. A cada segundo um pouco mais... Contagem regressiva.
Suspiro, e me sento à cama. Braços no colo, imóvel. A luz da tv me ilumina, assim como todos os cantos do quarto, fazendo dançar sombras nas paredes.
Pernas e pernas. Programas de madrugada. Garotas bonitas sorrindo e mexendo com o imaginário de pobres rapazes solitários e insones.. Ou pastores! Pastores sérios e de aparência pacifica, orando em nome de suas dezenas de telespectadores fiéis e necessitados.. (Posso imaginar a cena.. Joelhos prostrados, braços em torno das tv, repetindo suas palavras de fé.)
Todos sozinhos, procurando uma forma de reafirmar suas própria existência. Encontrar, no silêncio da madrugada, aquele pouco e tão significativo pedaço de nada que lhes faz tanta falta.
Todos, inclusive eu.
Deito e o deitar chacoalha os pensamentos em minha cabeça.
Talvez tenha me arranhado em algum lugar, um pouco de mim pode ter ficado preso a um velho pedaço enferrujado de arame. Ferro, um fiapo de roupa e eu.
Incoerência dar meia dúzia de passos retrógrados para resgatar esse algo perdido. Meia dúzia de passos se torna dez, que ao passo se tornam 15 e esses, por sua vez, andariam 20 anos.
Incoerência, quando na verdade o que ficou fui eu.
Esfrego as mãos no rosto. Rosto molhado. Há 5 minutos atrás estava seco.
Talvez mais um banho.
As noites andam quentes demais.
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