Os cascalhos estalaram enquanto o pneu fino da bicicleta girava por sobre o terreno recortado. O Sol batia forte entre as copas das arvores e pintava a paisagem feito um quadro de Van Gogh.
Em um milésimo de segundo o vento atinge meu rosto com suavidade característica. Lembro-me de uma viagem há anos atrás, e percebo a semelhança dos locais, talvez até mesmo uma cópia guardada no fundo da memória.Respiro nostalgia e me alimento daquele prazer especifico o qual atribuímos somente à memória.
Acelerei as pedaladas a fim de poder inspirar o maior volume de ar possível, enchendo os pulmões com aquela fatia de felicidade passada.
Sorri, sorri e apenas pedalei.
Após uma íngreme descida, onde as árvores começavam a ficar mais distantes entre elas, deixando com que o sol predomine em maior parte no terreno, e ao fundo já se distinguissem pequenas casas e lagos azuis turquesa, me deparei com a figura de um homem sobre uma bicicleta antiga, que percorria seu trajeto sem pressa. E esse foi o momento em que rompi as barreiras da própria lembrança e me aventurei, entre pedaladas, aos sonhos alheios, o sonho daquele homem.
Corri, corri para ultrapassá-lo, para me localizar, como quem procura uma placa em meio à estrada.
O ultrapassei e com um breve olhar para trás distingui seu rosto, ou como deveria ser, me recordei das páginas de sua vida. Cumprimentamo-nos com um singelo aceno de cabeça pintado com sorriso.
Creio que eram as mesmas pedaladas, o mesmo sonho de resgatar o passado que fora atropelado por anos violentos. Épocas diferentes, mas com o mesmo propósito. Era um passei de fuga.
Segui... Segui para as pequenas casas, senti vontade de lançar braçadas ao azul turquesa. Comprar um chapéu e fumar recostado a uma velha árvore. Senti que sonhava e não precisava acordar tão cedo.
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