domingo, 5 de outubro de 2008

3:00 am

3:00 am

O silêncio já era o bastante para mim durante aqueles longos segundos em que nossos olhos travaram um qualquer tipo de dança, ou luta.... Não me parecia fazer diferença.

Seu rosto tão bem cuidado não combinava em nada com a aparência daquele velho e empoeirado quarto. Definitivamente, o amarelo envelhecido dos postes de luz, que atravessava a janela e se esparramava em listras sobre nós dois, não combinava com o ‘azul dela'.

Não havia um clima de simples encontro, de deslize de circunstâncias. Eu senti (e imagino que não fui o único) que havia uma certa sombra de fuga. Uma corrida para a cela em que ambos queríamos estar, onde todo o resto passaria zunindo sobre nossas cabeças. O mundo era grande demais para atravessar as grades, ou passar por debaixo da porta.

Foi então que ela me tragou com um longo suspiro.

Caído sobre meus joelhos, na escuridão, a encontrei pelo cheiro e senti seu gosto. Por vezes meu coração deixou de bater. Eu nitidamente ouvia o pulsar de um coração.. De apenas um. O corpo dela adquiria uma tonalidade diferente, e me aquecia.

Acho que foi exatamente nesse momento que um pouco disso tudo, em contato com o calor, se fundiu em mim.

Sua declaração de amor soou como gemido e me sentenciou.

As palavras caíram, o calor se foi, os gemidos silenciaram, e o amarelo envelhecido desbotou até embranquecer. Só sobrou o ‘seu azul'.

Pela manhã fui enforcado.

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