domingo, 5 de outubro de 2008

A Marcha Perfeita

Marcha Perfeita

É só mais uma tarde, igual a tantas outras.

A mesma cor desbotada das paredes, aquecidas por um breve feixe de sol simbólico... Capricho de um dia sem importância.

A mesma sensação de perda da sensibilidade nos dedos.

Malditos dias frios, não se contentam com tantas das minhas lembranças e agora querem me tirar os dedos também? Bom, deles sim, eu sentiria falta.

Já faz um bom tempo que não a vejo.

Inconscientemente, costumamos lembrar justamente dos ‘primeiros dias’. Dias quaisquer, enfeitado por uma glória e beleza sem sentido. Um, como qualquer outro, repleto de lembranças moldadas perfeitamente para cobrir o quão vazio aquilo tudo significou realmente.

Pois eu prefiro o ultimo dia. A sensação latejante em minhas têmporas, que imploram uma ultima e rápida olhada para trás.. Mas eu resisto.

A mala pesando o ombro, enquanto eu executo a marcha perfeita, repleta de uma paixão e bravura tão forte quanto à dos soldados desertores.

Ecoavam os tambores anunciando o fulgor de mais um punhado de amores que se partiam em meio a aquela rua fedorenta.

E ainda assim, é só mais um dia frio, desbotado e sem sentido. E por mais que eu tente mascara-lo com qualquer poesia cravejada de disparates, não posso mudar o fato de que, naquele momento, simplesmente fui embora.

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