O Reflexo
Me deparei com a verdade absoluta. Ela se esgueirava pela esquina sem nome.
O brilho cintilante da água da chuva sobre o asfalto concede um sentido, e sentimento especial ao lugar vazio e escuro.
Reflexo era o nome dele. Um pequeno gato preto, de peito branco. Sentado sobre o telhado, à minha frente, me observava, com olhar majestoso e sábio.Eu, por minha vez, prostrado sobre um pequeno banco de madeira frouxa, velha, observava atento, cada movimento dele, cada ‘palavra'.
Reflexo sabia tudo sobre mim, e dizia que éramos iguais, tínhamos almas felinas (o que entendi como miserável, ou sabe-se lá o que pudesse se entender).
Procuramos nos aquecer - ele dizia. - Nos equilibramos sobre os muros, saltando sobre a cidade, enquanto ela dorme.
Ele me mostrou que a resposta estava num cesto de ferro vazio. Entregou-me o sentido que faltava a todas as perguntas sem respostas, e esse, por sua vez, eram igualmente vazio.
Então, senti o cheiro forte de um passado distante, o presente passou de raspão pelos meus bigodes, me fazendo estremecer.
Não sei em que momento ele se foi, caminhando de leve por detrás dos postes de luz.
Não sei quando eu fugi.
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