domingo, 5 de outubro de 2008

Mil e uma maneiras de se viver em harmônia com seu lar.

Mil e uma maneiras de se viver em harmonia com seu lar.


Dizem que há diversas formas de se sofrer um acidente domiciliar. Tantas quanto se pode imaginar ou escolher. Uma porção de armadilhas em seu próprio lar, basta um descuido rotineiro.

Tombo escada abaixo. Gás vazando. Água fervente. Panelas. Vasos em ganchos frouxos. Eletricidade, Facas.. Enfim.. Mas um, em particular, sempre me aterrorizou. Uma queda no banheiro sempre me matou de medo, de verdade.

Um dia, após todo um dia de trabalho, cheguei em casa e fui direto limpar todo o cansaço com uma ducha de água quente. Anteriormente havia trabalhado como montador de parque e, até então, pensava ter encontrado o pior emprego do mundo. Carregar peças de metal durante toda a tarde, sob o sol a pino. Seria impossível algo tão ruim e cansativo, mas logo pude constatar que a própria palavra trabalho carrega em si uma monstruosidade enorme. Um cansaço natural do ato, imagino.

Mas já não carregava mais peça de metal nenhuma, nem ouvia mais os comentários sobre bundas que desfilavam em frente ao pátio de trabalho. Agora, simplesmente, falava horas a fio com estranhos devedores, tudo por telefone, e só. Fácil. Mesmo assim meus braços doíam. Minhas costas tentavam voltar a postura original depois de tanto tempo curvado e meus ouvidos zuniam...Horrível

É estranhamente admirável os sacrifícios que um homem pode fazer para tomar sua cerveja honestamente.

E enquanto pensava em números e cigarros, embaixo d’água, a mesma corria por mim e se juntava ao sabão, em torno do meu pé, formando uma poça escorregadia. E foi exatamente nela em que escorreguei enquanto tentava alcançar minha toalha.

Foi muito rápido. Milésimos de segundos. Deslizei, rodopiei e consegui me amparar nas paredes antes de entrar de encontro nelas com minha cabeça.

Aquilo me foi tão apavorante que não sobrou reclamação para balbuciar. Nem dores contra as quais praguejar. Zumbido para escutar. Eram apenas eu, a parede, o sabão e um banheiro vazio, pequeno e perfumado.

E tinha sido eu mesmo que o havia lavado, há um dia atrás.

Então, constatei, que é assim que todo homem deve morrer.

Nu e sozinho, tentando se limpar da sujeira de seu dia.

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