sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A queda do Front

Deveria parar de marchar.
Os passos criam novas paisagens e o peso do mundo recai sobre o pelotão. Já não posso erguer o pescoço.
Durante anos a doença instalou-se em meus músculos, as veias haviam empoçado, porém, marchei. E a marcha curou-me o corpo e estendeu a vitória sob o céu, plano e rígido.
O pelotão canta ao avanço e eu só tenho 25 centavos no bolso.
Cantam sobre antigas guerras e epopéias românticas, mas a fome ensurdece.
“Mais mil passos, soldados! A próxima cidade nos promete camas quentes e uma ducha! Mais mil passos e torçam para abraçarem um céu de azul limpo, a próxima cidade estará em ruínas.”
Ainda tenho 25 centavos, talvez dê para um souvenir.
Mas o céu ainda é plano e rígido. Como a rótula de meu joelho, como as vértebras de minha espinha.
Já não posso erguer o pescoço. E a parada seguinte logo despontará no horizonte.

4 comentários:

Marcelo Pierotti disse...

Ótima narrativa. Um fragmento, quase estudo, mesmo... Então você deveria botar isso em algum contexto mais abrangente... mas, sabe com é, apenas um palpite.

Gostei realmente da narrativa.

Carol disse...

Seus textos são sempre fantásticos, Louie! Nunca tenho palavras!
Agora fiz um brog também. Tentar registrar o que escrevo, antes que acabe queimando tudo novamente. Nada aos pés de teus textos, mas são pequenos desabafos...!
Beijos!

Paulo Chagas Dalcheco disse...

Béééé!!! PP cabrito!!! Curti bastante, mas muitas vezes parece que a urgência de sua escrita o impede de dar atenção aos detalhes... e você manda bem nos detalhes... não deixe isso acontecer. Lembrando Cortázar, meu conselho é: seja urgente como um knockout, mas abrangente o bastante para não deixar de minar o abdômen do fdp do leitor antes de aplicar o direto de esquerda...

Monty Cantsin disse...

Sendo sintético e minimalista... Muito bom.