sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Janeiro.

Chove fino sobre a comprida rua Sete, cobrindo-a de manto cinzento. Um branco sujo. Chove fino, mas tão fino que somado ao calor dá-se a impressão de caírem cinzas do céu. Um teatro modesto de Pompéia.
O silêncio, presente no passo de cada passante, assiste ao olhar atencioso lançado pelo velho à vitrine de sapatos femininos, as senhoras e seus passeios de fim de tarde, ápice da emoção cotidiana.
Os carros fluem num tráfico lento, quase orgânico, de motores abafados e cinzas de chuva salpicando o pára-brisa.
Os jardins dançam, as máquinas registradoras cospem notas de dois reais.
Num final de tarde comum o mundo, alheio, dá voz a chuva fina. Dá voz ao silêncio.