Não é um fenômeno recente a decadência do homem. Nunca concordei quando, em uma conversa qualquer, escuto um “o mundo está perdido”, “as coisas não são mais como antes”, e todas as possíveis variáveis da mesma ideia raiz. O mundo sempre foi decadente, e diria mais, já foi muito pior do que hoje. Para cada pessoa que chega a constatação que as coisas estão ruins eu vejo mais uma cabeça a se deparar, finalmente, com a realidade, e não a constatar um evento novo.
Em 1096 houve a primeira cruzada extraoficial, mortes por inspiração religiosa. Durante a Baixa Idade Média a peste carcomeu o mundo conhecido, não sendo ela meu foco, mas sim a caçada aos judeus em sua decorrência. A Guerra de Tróia, na Idade do Bronze. A Bomba de Hiroshima. O extermínio dos Maias. O Ataque no Metrô de Tóquio. Para os religiosos, o assassinato de Abel. Para os descrentes o Massacre de My Lai. As mãos já estão sujas de sangue há muito tempo, então por que essa sensação de violência aumentada?
As preocupações fundamentais do homem foram engolidas pelo mundo moderno. A desordem, a violência, a animalidade, tudo foi escondido pelas cortinas da moral social. Da ordem da modernidade, dos tratados, da ética. A morte, aos poucos, foi esquecida, e no lugar de toda a problematização primordial for inserida uma série de novos problemas para direcionar a vida humana.
Faturas, boletos, aluguéis, descontos, faculdade, radares eletrônicos, agrotóxicos, escolas, grades horárias televisivas...
O homem esqueceu sua origem e fez do mundo atual um falso espelho dos últimos 195.000 anos. Ele não é mais um ente de carne, é uma fita de papel revestida de resina termossensível,
No último mês uma mulher se suicidou num dos shoppings mais famosos de São Paulo. Não sei como se chamava e nem a motivação para tal, acho que ninguém sabe, mas ela se atirou do terceiro andar. O estrondo do corpo contra o chão branco de mármore foi enorme. Acredito que o eco deste “fim” fez brandir um acorde antigo na alma de cada pessoa ali presente, e poderia apostar que ninguém, naquele dia, sofreu o pagamento da parcela de sua última compra.
Um comentário:
Nossa, gostei demais desse texto, de verdade.
Constatamos todos os dias o que todos já sabem há milenios como se fosse algo novo. Mas tudo isso nunca deixou de me impressionar.
Amo ;*
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