Hoje reacendi o cigarro de anos atrás.
O vento gelava as pontas dos dedos e altos pinheiros remavam o ar. Eu caminhava entre concreto e mármore enquanto tomava longos goles de vinho (vinho esse do qual nunca me desfiz).
Era tão grandioso me passando por Deus que arranhava os joelhos em beiras de telhados e me cegava entre nuvens.
Ao reacender o cigarro encarei todos os olhos da cidade e eles, sem palavras, denunciaram não ser inédia minha passagem por lá. O reflexo da poça que amanheceu fria é só reflexo da poça à muito já seca.
Pois, por mais que volte a pisar o lago congelado ou a sentir o gosto de fumaça e menta, meu tamanho foi levado com o tempo e ao entrar novamente nesse palco não sou maior que uma lembrança. Um fragmento adulterado.
3 comentários:
De fato, exatamente aquilo que você havia me dito. O controle que temos do presente acaba virando uma lembrança distorcida que não conseguimos mais mexer.
Muito bom. Gostei.
Ps: AMO.
ô loco!!! Pinheiros que remam o ar é uma imagem muito boa. Bom excerto lírico.
"Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo!"
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