" Minhas mãos parecem dois blocos de gelo e posso ouvir meu coração batendo alto dentro dos meus ouvidos. Ligo a torneira do banheiro e a água jorra pela penumbra. Ainda são 5 horas da manhã.
Sinto um cheiro insuportável de ferro exalar de mim. Foi esse maldito cheiro que me acordou, rompeu a horrenda sucessão de pesadelos que violentavam meu sono. Acordei num pulo, segundos antes de, talvez, morrer afogado no meu próprio suor.
Vejo o sangue em minhas mãos, sangue e sombras. Talvez só sombras mas não posso acender as luzes e me certificar. Não posso olhar no espelho e enxergar meus olhos. Agora, tenho olhos de animal. Tenho grandes olhos de hiena. Tenho o bafo quente e faminto da hiena. E sangue nas mãos. As lavo, desesperadamente. Ontem rompi o fio que me separava das feras. Me tornei uma fera, um pedrador. Não posso mais voltar para a cama, devo dormir sozinho em meio a folhas secas e gravetos velhos de um canto isolado. Devo deixar que a brisa fria da noite me livre desse odor. Matarei minha fome comendo insetos e pequenos mamíferos. Saciarei minha sede com sangue e água barrenta. Calarei a razão e o sentimento.
Esfrego minhas mãos mas as manchas permanecem. Elas não podem ser lavadas, não estão na pele.
Sinto minhas pernas fraquejarem e me seguro nas beiradas da pia. Meus olhos, refletidos no espelho, são duas manchas negras. Não sou mais um homem."
terça-feira, 26 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Ócio
As vezes, quando caminho,
me basta apenas a lama nas botas.
Não sinto o pó das pequenas alturas
não sinto a faca do tempo
que insiste em podar as extremidades secas da vida.
Quando caminho, abaixo os olhos
para evitar os rostos
para evitar a fala.
E quando o céu abre e o sol faz cantar árvores
deixo que queime apenas minha nuca
pois me basta a lama nas botas.
"O ócio, Luiz, te é molesto; pelo ócio
exultas e demasiadamente gesticulas,
o ócio arruinou, antes, tantos reis como
cidades opulentas."
me basta apenas a lama nas botas.
Não sinto o pó das pequenas alturas
não sinto a faca do tempo
que insiste em podar as extremidades secas da vida.
Quando caminho, abaixo os olhos
para evitar os rostos
para evitar a fala.
E quando o céu abre e o sol faz cantar árvores
deixo que queime apenas minha nuca
pois me basta a lama nas botas.
"O ócio, Luiz, te é molesto; pelo ócio
exultas e demasiadamente gesticulas,
o ócio arruinou, antes, tantos reis como
cidades opulentas."
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