Não há tempo
para a razão-animal,
para
o amor comedido,
a culpa assumida ou
a sentença aceita.
Não há tempo
para acender velas,
curar a peste,
explicar a guerra e
perdoar.
Pois somos, ao todo,
olhos e vontades
fome, sede e
cópula.
Pés
terra
pêlos.
e toda defesa
frente ao espelho
é exercício
de distração.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
À Vista
Segue a manhã
no trote do Sol,
banhando em dourado
tudo que se alonga à vista.
Dos lábios vermelhos
ao fino fio, linha sutíl
de cabelo que se enrosca no travesseiro.
- A marca de dentes pintada no céu de teu seio -
Finda o veneno.
Traz a sobriedade.
Que se ontem rasguei o céu,
hoje talho em carne a verdade.
no trote do Sol,
banhando em dourado
tudo que se alonga à vista.
Dos lábios vermelhos
ao fino fio, linha sutíl
de cabelo que se enrosca no travesseiro.
- A marca de dentes pintada no céu de teu seio -
Finda o veneno.
Traz a sobriedade.
Que se ontem rasguei o céu,
hoje talho em carne a verdade.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Pão
Nos doam um prato, opção única,
e cobram gratidão, duas vezes ao dia.
Somos só a sombra do essencial.
e cobram gratidão, duas vezes ao dia.
Somos só a sombra do essencial.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
9ª Sinfonia - IV. Presto - Allegro assai
Já fazem algumas semanas que a reforma no quarto em frente continua ininterruptamente. Logo cedo, por volta das 6:30 os primeiros ruídos começam a soar, primeiramente fraco até seu compositor animar-se com tal feito e arriscar um bolero com marretas e lixas.
Já fazem algumas semanas e sempre inicia-se por volta das 6:30, horário em que nos encontramos dormindo/acordados, tão sujeitos a interferências, a projeções exteriores. Estado de sono Beta como eu poderia chama-lo para criar uma falsa noção de embasamento científico. Marretas, pedregulhos, raspagens, isqueiro, tosse, marretas. E o que antes era um simples sonho erótico torna-se um ensaio de destruição neurológica.
Todos os cenários de guerras juntos formando um resumo teatral em prol da atrocidade humana e seus frutos colhidos sobre um insone moribundo e sua cama. Mil e uma balas ao repique do despertador. O pigarro de um gigante, talvez os dentes de Deus Ex Machina. Sim, Deus Ex Machina partindo rodovias pela fome, escolhendo o destino de cada homem por intermédio de seu impulso irracional. Vestindo a máscara de Crono, pedra por pedra, vida por vida. O valor desprezado a cada deglutição, cortando a tela da profecia de seus filhos.
Vejo a luta pelo ópio, o sinal de despejo, a tesoura gigante a podar nuvens. Toda uma geração a festejar sobre ossos infantis. Concreto de dentes e fluídos. Fetos em doses de martíni, dançando aos rodopios no giro do dedo que há de prova-lo.
Encaro meu próprio testamento sagrado. Sorrio aos maias, danço entre as estátuas da ilha de páscoa, abraço cada civilização deteriorada. Ouroboros cobre o equador e sua saliva, quente, cai como chuva de verão.
Eu poderia escrever um épico, poderia ter um machado e a sede da justiça, poderia enterrar toda minha sensibilidade em um qualquer lugar esquecido. Poderia mudar de quarto, mudar de casa, tomar opiáceos e enterrar a consciência sob o travesseiro. Mas todo o dia as 6:30 a sinfonia começa e a cada dia decoro uma nova nota.
Já fazem algumas semanas e sempre inicia-se por volta das 6:30, horário em que nos encontramos dormindo/acordados, tão sujeitos a interferências, a projeções exteriores. Estado de sono Beta como eu poderia chama-lo para criar uma falsa noção de embasamento científico. Marretas, pedregulhos, raspagens, isqueiro, tosse, marretas. E o que antes era um simples sonho erótico torna-se um ensaio de destruição neurológica.
Todos os cenários de guerras juntos formando um resumo teatral em prol da atrocidade humana e seus frutos colhidos sobre um insone moribundo e sua cama. Mil e uma balas ao repique do despertador. O pigarro de um gigante, talvez os dentes de Deus Ex Machina. Sim, Deus Ex Machina partindo rodovias pela fome, escolhendo o destino de cada homem por intermédio de seu impulso irracional. Vestindo a máscara de Crono, pedra por pedra, vida por vida. O valor desprezado a cada deglutição, cortando a tela da profecia de seus filhos.
Vejo a luta pelo ópio, o sinal de despejo, a tesoura gigante a podar nuvens. Toda uma geração a festejar sobre ossos infantis. Concreto de dentes e fluídos. Fetos em doses de martíni, dançando aos rodopios no giro do dedo que há de prova-lo.
Encaro meu próprio testamento sagrado. Sorrio aos maias, danço entre as estátuas da ilha de páscoa, abraço cada civilização deteriorada. Ouroboros cobre o equador e sua saliva, quente, cai como chuva de verão.
Eu poderia escrever um épico, poderia ter um machado e a sede da justiça, poderia enterrar toda minha sensibilidade em um qualquer lugar esquecido. Poderia mudar de quarto, mudar de casa, tomar opiáceos e enterrar a consciência sob o travesseiro. Mas todo o dia as 6:30 a sinfonia começa e a cada dia decoro uma nova nota.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Quando cessa a tempestade
Domam-se os sons, o ar torna-se seco, seco o suficiênte para reavivar o fogo.
Esperamos entre matilhas na companhia da jura sussurada entre dentes, colhendo o esperado que desliza sobre a nudez.
Foram-se noites e chacais, e pontes, e fornalhas, e o holocausto particular.
Toco os lábios em seu ventre, o único fiélmente condecorado como meu assassino.
"Assim que a idéia do Dilúvio sossegou,
uma lebre se deteve entre os trevos e as campânulas, e fez sua prece ao arco-iris, através da teia de aranha."
Esperamos entre matilhas na companhia da jura sussurada entre dentes, colhendo o esperado que desliza sobre a nudez.
Foram-se noites e chacais, e pontes, e fornalhas, e o holocausto particular.
Toco os lábios em seu ventre, o único fiélmente condecorado como meu assassino.
"Assim que a idéia do Dilúvio sossegou,
uma lebre se deteve entre os trevos e as campânulas, e fez sua prece ao arco-iris, através da teia de aranha."
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