Segue o galope cego do tempo,
onde agarramos com unhas a crina
de seus ponteiros impassíveis.
A diversão displicente foi ao chão,
toda busca por tempo perdido rompeu-se
sob os cascos ritmados.
Há necessidade pela velocidade,
fé na impagável sorte do alheio.
Vão-se os lances de concreto,
as pontes partidas.
Marca a terra vermelha
ao peso do momento.
Mas a mão,
a unha,
entrelaça mais forte as rédeas,
cobra a corrida à espora
até ver ofegar o entardecer.
Força o pulo,
relincha em compasso.
A quinta-feira partiu antes, mas já desponta ao pé da noite.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Escuta, amigo.
Então fecha os olhos
e conserva a pura
expressão do lúdico
o masoquismo quase lisérgico
de cada folha completa
de odes ao vazio
nada lógico
do teu caráter laxo.
Lambe o irreal
da ausência do ter quarto
molda o retrato
de sua audácia pueril
e segue sozinho.
Pois eu digo, meu amigo
que o remetente de sua carta
já vem há tempos comigo.
e conserva a pura
expressão do lúdico
o masoquismo quase lisérgico
de cada folha completa
de odes ao vazio
nada lógico
do teu caráter laxo.
Lambe o irreal
da ausência do ter quarto
molda o retrato
de sua audácia pueril
e segue sozinho.
Pois eu digo, meu amigo
que o remetente de sua carta
já vem há tempos comigo.
sábado, 25 de julho de 2009
Tentações de St. Antão
Indo além dos 20 anos
de pés na neve e meditação,
com pedaços no enfarpado
da fronteira adiante,
o ermitão também sofre baixas
por fogo amigo.
- Um relógio de ouro!
Preço caro pela fadiga
e lógica nada previsível
da pena, da seda
ou da sífilis novecentista.
Sem símbolo, então,
a marcha é reversa
aos antonianos.
de pés na neve e meditação,
com pedaços no enfarpado
da fronteira adiante,
o ermitão também sofre baixas
por fogo amigo.
- Um relógio de ouro!
Preço caro pela fadiga
e lógica nada previsível
da pena, da seda
ou da sífilis novecentista.
Sem símbolo, então,
a marcha é reversa
aos antonianos.
sábado, 18 de julho de 2009
The tower and the city
"I always wanted to know what you think. We're talking philosophy this year. I have a lot of ideas myself but I never can put them togheter nice and logical. My philosophy is that you can't explain the world. It's too big and it's too crazy and sometimes it's funny and most of the time it's... Strange."
The Tower and the city. pp. 155
Jack Kerouac
The Tower and the city. pp. 155
Jack Kerouac
terça-feira, 14 de julho de 2009
Lúpus eritematoso sistêmico
De pescoço dado
ao garrote das mãos
do acaso
Tão sucetível
à sarcoidose,
inveja, amor
e tuberculose.
A carne herdeira
de males sistêmicos
Homens,
entidades auto-imunes.
ao garrote das mãos
do acaso
Tão sucetível
à sarcoidose,
inveja, amor
e tuberculose.
A carne herdeira
de males sistêmicos
Homens,
entidades auto-imunes.
domingo, 12 de julho de 2009
4 deJunho
Ela me disse
Que andaria sempre à direita
o que entendi:
“à minha direita”
E no final de uma tarde
e de uma garrafa
cessou, também, minha
estádia tão distante.
E, por fim, no beijo
de não-despedida
ela concedeu-me, novamente
todas as noites de minha vida
as quais levava consigo.
Que andaria sempre à direita
o que entendi:
“à minha direita”
E no final de uma tarde
e de uma garrafa
cessou, também, minha
estádia tão distante.
E, por fim, no beijo
de não-despedida
ela concedeu-me, novamente
todas as noites de minha vida
as quais levava consigo.
Fragmento.
O ponto de hélices voa acima da chuva, silencioso, sereno
Aqui embaixo o cheiro de poeira molhada e gasolina se estende
do começo da avenida até meus pulmões, que não se importam.
Assim deve ser a solidão, não dos exilados, separados ou perdidos,
esta é a solidão da cosmogonia divina, o estopim do que conhecemos.
Um pré-gênesis de irrelevância, um sussurro de tudo que importa.
Aqui embaixo o cheiro de poeira molhada e gasolina se estende
do começo da avenida até meus pulmões, que não se importam.
Assim deve ser a solidão, não dos exilados, separados ou perdidos,
esta é a solidão da cosmogonia divina, o estopim do que conhecemos.
Um pré-gênesis de irrelevância, um sussurro de tudo que importa.
terça-feira, 7 de julho de 2009
Resposta ao Karma
Aos poucos o rosto do rapaz ia se abrindo como planejado. Olavo sorria, arquitetando um sorriso mesclado que não lhe desse ares de bobo-sonhador. Tentava alcançar um tom de gentileza bordado de convicção, esse sim deveria funcionar.
Há 2 meses procurava emprego. A última empresa em que trabalhou deu-lhe experiencia e alguns meses de salário significativo, mas em tão pouco tempo a crise se instalou por lá e tratou de recortar boa parte do contingente efetivo. Na verdade não foram muitos, só ele, e tudo estaria bem se essa tal “crise” não fosse o cunhado desempregado do diretor.
Porém, amaldiçoar famílias unidas não lhe encheria o bolso , mas sim a gravata e o sorriso quebra-gelo que usava como armas para lançar-se a uma nova tentativa desesperadamente disfarçada.
- Então, Olavo, certo? Por que esse sorriso no rosto?
O senhor a sua frente mirava-o com seus pequenos olhos azuis, de maneira insignificante, enquanto preenchia alguns papéis aleatórios que se espalhavam pela mesa de mogno encerada. Era um tipo de altivez grotesca no alto de seus um metro e quase noventa de gordura e rugas. Os poucos fios brancos de cabelo salpicavam o topo de sua cabeçorra vermelha que já dava sinais de ceder aos efeitos da gravidade. O grande nariz de bexiga pendia frente ao rosto como uma bolha e o lábio inferior, caído, tinha aspecto de gelatina.
- Sorrisos não vendem caminhões. Conhecimento do produto os vendem. Diga-me, já trabalhou com isso?
Lábios trepidam. A palavra do grande Lorde foi lançada. Lorde da concessionária, Barão de RH, Duque da seleção de candidatos.
- Obrigado.
E foi assim. O velho obrigado seco e sem expectativas, uma daqueles que nos fazem implorar um pouco de mentira e esperança.
O rapaz levantou e saiu do escritório, atravessando a frota de monstros metálicos da Mercedes Benz para só, quando já longe do campo de visão do grande “outdoor” da empresa (o brasão real), desfazer sua máscara de pretensões e questionar os motivos dessa derrota. Caminhava com pressa rumo ao metrô. Talvez não tivesse construído a imagem necessária, talvez não fora tão simpático quanto deveria... Talvez...
E ao contornar a catraca e virar-se para a escada rolante, um sujeito qualquer, um apressado de cabelos bagunçados e corpo franzino, tromba de ombro contra Olavo e, no mesmo momento, roda sobre os calcanhares com um aceno e sorriso simpático estampado no rosto. - Desculpe, eu.. - mas é calado pelo punho de Olavo.
“Desculpe o caralho, e tira esse sorriso da cara!”
Há 2 meses procurava emprego. A última empresa em que trabalhou deu-lhe experiencia e alguns meses de salário significativo, mas em tão pouco tempo a crise se instalou por lá e tratou de recortar boa parte do contingente efetivo. Na verdade não foram muitos, só ele, e tudo estaria bem se essa tal “crise” não fosse o cunhado desempregado do diretor.
Porém, amaldiçoar famílias unidas não lhe encheria o bolso , mas sim a gravata e o sorriso quebra-gelo que usava como armas para lançar-se a uma nova tentativa desesperadamente disfarçada.
- Então, Olavo, certo? Por que esse sorriso no rosto?
O senhor a sua frente mirava-o com seus pequenos olhos azuis, de maneira insignificante, enquanto preenchia alguns papéis aleatórios que se espalhavam pela mesa de mogno encerada. Era um tipo de altivez grotesca no alto de seus um metro e quase noventa de gordura e rugas. Os poucos fios brancos de cabelo salpicavam o topo de sua cabeçorra vermelha que já dava sinais de ceder aos efeitos da gravidade. O grande nariz de bexiga pendia frente ao rosto como uma bolha e o lábio inferior, caído, tinha aspecto de gelatina.
- Sorrisos não vendem caminhões. Conhecimento do produto os vendem. Diga-me, já trabalhou com isso?
Lábios trepidam. A palavra do grande Lorde foi lançada. Lorde da concessionária, Barão de RH, Duque da seleção de candidatos.
- Obrigado.
E foi assim. O velho obrigado seco e sem expectativas, uma daqueles que nos fazem implorar um pouco de mentira e esperança.
O rapaz levantou e saiu do escritório, atravessando a frota de monstros metálicos da Mercedes Benz para só, quando já longe do campo de visão do grande “outdoor” da empresa (o brasão real), desfazer sua máscara de pretensões e questionar os motivos dessa derrota. Caminhava com pressa rumo ao metrô. Talvez não tivesse construído a imagem necessária, talvez não fora tão simpático quanto deveria... Talvez...
E ao contornar a catraca e virar-se para a escada rolante, um sujeito qualquer, um apressado de cabelos bagunçados e corpo franzino, tromba de ombro contra Olavo e, no mesmo momento, roda sobre os calcanhares com um aceno e sorriso simpático estampado no rosto. - Desculpe, eu.. - mas é calado pelo punho de Olavo.
“Desculpe o caralho, e tira esse sorriso da cara!”
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