Dedico essa confissão aos cães (por vezes chamados “companheiros” ou até
mesmo “amigos”).
Escrevo a vocês para informar a
falta que a ponta de meus dedos me fazem, pontas essas abocanhadas enquanto
lhes afagava.
Temo não ter sido prevenido no que diz respeito a seus instintos falhos
e distúrbios de comportamento de matilha, portanto, uso esta carta como reforço
à minha memória e diagnóstico de seus latidos esganiçados.
Reitero também meu recém apoio ao uso de métodos pouco ortodoxos no
combate à hidrofobia e transtornos de fidelidade canídea, sendo esses o
isolamento público e, em último caso, sacrifício.
Por fim, atento ao autoconhecimento como moderador de personalidade,
vista suas recorrentes identificações aos lobos quando, na realidade, não
passam de cães sem bando.
Desejo lhes estender a mão para
que abocanhem-na, engasguem com a secura de minha pele e morram na sarjeta da
avenida principal, deixando à vista seus corpos de cão inchados e sós.
Cordialmente.
Um cão.