"Nenhum homem é uma ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do Continente, uma parte da terra. Se um Torrão carregado pelo Mar deixa menor a Europa, como se todo Promontório fosse, ou a Herdada de um amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti."
John Donne
quinta-feira, 17 de março de 2011
sexta-feira, 4 de março de 2011
Estilingue
Todos os dias, ao meio-dia, quando saio para trabalhar, passo em frente a uma escola de ensino fundamental. Uma escola pública, daquelas que leva o nome de alguma figura importante como homenagem.
Ao meio dia, quando saio, é também quando elas chegam. Dezenas crianças de mochilas nas costas. Correria, gritos, aventura. Diria que são sempre as mesmas, mas não posso dizer com certeza, para mim nessa idade todas parecem irmãos e irmãs de extrema semelhança. Porém, consigo identificar a recorrência dos rostos que as acompanham; mães, pais, tios, tias, irmãos... Conversam entre si enquanto os pequenos saem em disparada entre os transeuntes. Às vezes brigando, às vezes rindo. Um garoto tenta demonstrar força para os amigos, uma garota anda séria, tentando se passar por mais velha. Não importa o ato, não importa a criança, há um elemento em comum entre todas: o barulho.
Mas nunca foi esse o som que me perturbou, e sim o som proveniente daqueles rostos distintos. O som dos acompanhantes. São gritos para apressar, gritos para oprimir, gritos por gritar. Não havia atenção para com elas, não havia carinho, eram gritos... Berros, ordens. Talvez lhes atrapalhassem a conversa entre os adultos, talvez os passos curtos das crianças lhes fizessem perder o programa de TV favorito.
Um dia, enquanto caminhava entre as crianças, fui bombardeado pelos gritos de contenção. Mas em meio a todo o concerto de rispidez uma melodia de desespero rachou a cena e transformou o momento em silêncio. Não houve mais correria, as risadas cessaram, as mães e pais e tios e irmãos tremeram. Não houve pensamento ou reação nos três primeiros segundos. A mochilinha voou mais adiante, assim como o corpinho miúdo. O carro, ainda de motor ligado, fazia subir um forte cheio de pneu queimado. Neste dia meu atrasado no trabalho teve o tempo de uma oração.
A morte de uma criança é como a morte de um passarinho, silenciosa e inocente.
Ao meio dia, quando saio, é também quando elas chegam. Dezenas crianças de mochilas nas costas. Correria, gritos, aventura. Diria que são sempre as mesmas, mas não posso dizer com certeza, para mim nessa idade todas parecem irmãos e irmãs de extrema semelhança. Porém, consigo identificar a recorrência dos rostos que as acompanham; mães, pais, tios, tias, irmãos... Conversam entre si enquanto os pequenos saem em disparada entre os transeuntes. Às vezes brigando, às vezes rindo. Um garoto tenta demonstrar força para os amigos, uma garota anda séria, tentando se passar por mais velha. Não importa o ato, não importa a criança, há um elemento em comum entre todas: o barulho.
Mas nunca foi esse o som que me perturbou, e sim o som proveniente daqueles rostos distintos. O som dos acompanhantes. São gritos para apressar, gritos para oprimir, gritos por gritar. Não havia atenção para com elas, não havia carinho, eram gritos... Berros, ordens. Talvez lhes atrapalhassem a conversa entre os adultos, talvez os passos curtos das crianças lhes fizessem perder o programa de TV favorito.
Um dia, enquanto caminhava entre as crianças, fui bombardeado pelos gritos de contenção. Mas em meio a todo o concerto de rispidez uma melodia de desespero rachou a cena e transformou o momento em silêncio. Não houve mais correria, as risadas cessaram, as mães e pais e tios e irmãos tremeram. Não houve pensamento ou reação nos três primeiros segundos. A mochilinha voou mais adiante, assim como o corpinho miúdo. O carro, ainda de motor ligado, fazia subir um forte cheio de pneu queimado. Neste dia meu atrasado no trabalho teve o tempo de uma oração.
A morte de uma criança é como a morte de um passarinho, silenciosa e inocente.
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