quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Passantes

A caminhada era lenta.
Vinham presos em conversa,
serenidade e copos na mão.
A noite era mais fresca,
as gotas de chuva fina acariciavam
os rostos jovens.
As ruas lhe assistiam,
as casas os ouviam
e a lua esperava, refletida no vinho,
para no próximo gole beijar seus lábios.
Um dia ele se fez maior.
Lançou alto as mãos e escalou os edifícios
que esticam a cidade.
Tomou, de repentino,
o vinho,
a mulher,
o céu
e os tomou num largo trago
fazendo daquele dia
a subtração de todas as sedes.

sábado, 25 de setembro de 2010

O Discreto.

Arranca da terra o coração
como separa o mar vermelho
com um simples gesto de mão.

Do pó ao ferro
do ferro ao cobre
do cobre ao ouro.
E de lábia convicta
de prévio decoro.

No silêncio de seus gestos
a agudez precisa
que inveja aos corretos.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A Maquina de Prover Sentimento

Na sua ausência o dia,
nublado, ainda tem o cheiro
que certa vez confundi
com um aroma a mais
de seu perfume.
Os braços, sem abraços,
sujeitam-se à agressão
de uma brisa fria
que surge de esgueira
dentre as árvores.
E o dia, escuro,
o verso,
e a nostalgía ambiente
são apenas sombras de quando
marcamos essa terra, unidos,
embebidos de vinho e paixão.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Desafinado.

Anda de esgueira à sombra da hostilidade.
O fio que agrada é o mesmo
que abre a ferida.
Sendo grão ou monte,
a palavra direcionada,
o naufrágio do encouraçado,
o beijo mal dado.
Tudo que já fora subtraido
faz peso na medida
da verdade escondida.