quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

“Abre a janela, meu amigo,
joga a bagunça para lá e senta na cama.”
É no pedaço de vista
de rua trepidante
por entre as escadas
onde se abrem rachaduras
onde se soltam demônios
e melodia aos ouvidos
dose aos estômagos
frases às paredes
é por dentro da vista
subindo as escadas
onde a porta está sempre aberta
que a vida se refugia
quando a noite lhe desabriga.

Beba um copo
solte a fumaça
mate um novilho
em nome do tédio

“Mas lembre bem, meu amigo
foi por excesso que caiu Gomorra,
faça desse antro o seu abrigo
só não abra a geladeira, porra.”

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sístole.

40 minutos atrasado, corro.
A cidade ensaia seu ballet free-style. Carros rodopiam, ônibus sacolejam em danças rituais. Dois ou três motoqueiros acertam um “quebra nozes” em frente ao café da manhã público.
A gravata pende ainda aberta em meu pescoço, o café ainda está entre os dentes. Penso desculpas, penso atalhos, penso se coloquei meias mas não confiro. Os pés recém acordados sofrem com a pressa. A casa se encontra num ponto “A”, o local de trabalho num ponto “C”. Ambos formam uma linha retilínea em que B (eu) vai de um ponto à outro. Visualizo o espaço, a distância viabiliza a existência de meu relógio. Minha saúde física mantêm minhas pernas em movimento porém as pernas em movimento acelerado marcam o atraso. Preocupação. Adoeço psicologicamente, o que me torna socialmente despreparado. O triângulo físico-psicológico-social perde duas pernas eu perco dois minutos, é um processo lento e auto-destrutivo, é humanamente característico.
Quando penso em trabalho penso em meu pai. Penso nos sapatos de meu pai, me vejo calça-los, mas ainda são enormes para meus pés.
Empurro uma senhora que fecha a calçada, ela grita. Apita uma campainha de cordas vocais velhas e frouxas. Ouço ofensas. Não ligo.
46 minutos atrasado, a corrida chacoalha meu estomago, sinto náuseas, perco fluidos, ganho velocidade, perco folego. Tusso, me apoio num poste cinza forrado de anúncios e vejo uma gota salgada cair da minha testa ao sapato de couro escuro. Levanto o rosto como que para sugar o mundo pelas narinas. Respirar fundo e lentamente. Respiro,me acalmo... E a vejo. Caminha devagar, destoando do quadro geral. Tento perceber a cor dos teus olhos, lhe acompanho o movimento da saia, imagino seu corpo nu, seu destino, seu nome e a perco numa esquina sombreada e recém lavada. Largo o poste e corro os últimos 100 metros rasos que precedem o ponto de ônibus. Talvez chegue antes das 9:00.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Páscoa

Foi de pão e vinho
e confissões fraternais
que se abriu
o corpo de Cristo.
A bondade e
a alma de cordeiro
quando forjadas
em ponta de lança
lhe atravessa a paixão
toráxica
do fígado à homoplata.