quinta-feira, 9 de abril de 2009

Troca

Não há gama de conjunto maior do os componentes estruturais do que chamamos de sentimento humano.
A saudade, a ternura, o ódio, o amor, etc.
Fruto de anos e anos de amadurecimento pessoal e tão suscetível a abalos posteriores. Do amor ao ódio. Dá água ao vinho. Na atenção demasiada a terceiros, num olhar amigo, no abraço das pernas de outras mulheres.
Ela tinha 16 anos quando a conheci. Meu pequeno anjo, a inocência que me faltava, não por necessidade, mas por opção.

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Ela caminha nervosa, de um lado ao outro da sala, enquanto permaneço deitado olhando fixamente para o teto. Lá em cima aquela antiga infiltração, a qual havia prometido a ela ter verificado há muito tempo, cria pequenas bolhas de tintas sobre nossas cabeças, em silêncio.
O baixinho da imobiliária havia me garantido que tudo estava em perfeito estado, porém, lá estão aqueles olhos de tinta e água para me lembrar das promessas não cumpridas.
- Filha da puta. Não podia ter feito isso, não comigo! Filha da...
Estico-me, tentando alcançar a almofada mais ao lado, ao pé do sofá, e com um movimento lateral escorrego pelo tapete até senti-la abaixo da cabeça.
Admito não ter sido tão dedicado como uma vez dissera ser, “muito longe do que eu esperava” ela diz, mas afinal, onde estaria a perfeição esperada? Sobre a mesa de centro? Na almofada sob minha cabeça? Na quinta sinfonia de Beethoven? Na infiltração no teto? Fomos tão espontâneos quanto à mancha no tapete.
Ela senta no sofá. Mão tremula. O rádio ainda ligado, como antes de ser interrompido pelo estopim, põe-se a cantar como um barítono europeu... Cômico.
- Assim será melhor - ela diz entre soluços e lágrimas que agora lhe saltam dos olhos como cascata – Depois de tudo que me fez, seu imundo, assim será melhor. Não... Não posso olhar para essa sua cara novamente... Imundo!
Deus, sei que errei. E perante ti aceito meus erros. E perante ela peço perdão, não com palavras, peço perdão aceitando cada palavra que me é dedicada. Cada insulto. por cada mentira anterior. Aceito a raiva por ter sido o autor da tristeza.
A música acaba e fecho os olhos. Ela se levanta. A mancha no tapete aumente. Sinto frio.
- Desculpe-me querida.
Ela soluça e engatilha mais uma vez o revolver.
A dor pela dor. Coração partido por coração partido.
Tão suscetível.
Troca justa.

(Texto não revisado e não lapidado.)